terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Problema 568

Ontem (dia 5), mesmo ao cair do pano no programa Prós e Contras, o Nuno Melo teve uma afirmação no mínimo brutal. Digo brutal não no sentido de ser uma coisa espectacular, mas sim mesmo brutal, violenta. Quando questionado sobre se o CDS partilha da ideia de se aplicar uma taxa às grandes fortunas, o referido deputado, perguntou para quem quis ouvir: O que são grandes fortunas? (risada na audiência).

Coube portanto ao Nuno Melo - contra quem não tenho nada, e reconhecendo-lhe, até, certa objectividade no seu discurso - tipificar um dos males dos políticos. (convém não esquecer que os políticos são pessoas como nós, não são uma casta a parte de humanos, pelo que o mais assertivo seria dizer que exemplifica um dos males das pessoas).

Que mal é esse?

Houve alguem que disse certa vez que: " A dificuldade não está em dizer a verdade, mas em dizer toda a verdade".

Pergunto eu: será assim tão dificil responder directamente às perguntas da Fátima Campos Correia? sinceramente fiquei com a sensação de que o Nuno Melo, bem como toda a pandilha CDSiana, não concordam com a taxa sobre as grandes fortunas. Dizer e assumir isto abertamente não creio que tenha problema algum, afinal de contas ainda se vai tendo alguma liberdade para dizer o que se pensa, sem que depois sejamos por isso perseguidos.

Porque raio o Nuno Melo nao disse abertamente que o seu partido era contra essa ideia?
A resposta nao podia ser mais simples.
Mesmo que este nao fosse um ano de eleições, ele diria a mesma coisa, porque no seu entender (que se resume, no final, aos resultados que este ou aquele partido obtiver atraves dos votos, isto porque, seja na politica ou a jogar futebol, ninguem entra em campo para perder) o seu partido perderia votos, pois que os portugueses ao ouvirem tais coisas, sobretudo nestes tempos "críticos", pura e simplesmente se passariam da cabeça. Cá está a segunda metade da citação, o dizer toda a verdade.

Se me perguntarem se sou a favor ou contra a taxa sobre grandes fortunas, dou uma resposta clara: Acho que como nação temos muitos mais problemas antes de chegar a esse. Digamos que, na lista, este problema andaria no numero 568. Temos, claro está, 567 problemas a resolver antes desse.

Uma vez resolvido todos eles, acho que se deve atacar o problema 568.
Quando o estado for mais estado, nao porque maior, mas sim porque mais justo, igualitário e protector das liberdades cívicas de cada um; quando condenar efectivamente quem pratica infrações e crimes; quando cobrar impostos justos, ou por outro lado, garantir que os variados serviços se equiparam ao valor por eles cobrados; quando se tiver um ministério do ENSINO e não da Educação (porque educar e ensinar são palavras parentes mas distintas. Eu fui educado em casa, e vou à escola aprender. Certo é tambem que a escola tem um papel secundário ao limar certas arestas da personalidade de cada um atraves do contacto/interacção social, mas nao passa disso, o papel fundamental é, ou terá, que ser dado em casa, pelos pais, não devendo a escola interferir nesse campo, algo que, somente pelo nome do ministério tutelar, não faz. Eu nao quero um estado que me eduque.......ja tivemos, na nossa história, e na sua homologa mundial, diversos regimes em que isso acontecia, denominados de ditaduras.....e ao que parece a nossa, foi a mais longa de todas); emfim, quando todas estas coisas/situações estiverem resolvidas, podemos entao passar às taxas sobre as grandes fortunas.

Mas nao pretendo fugir à questão que me auto-coloquei sobre a dita taxa.
Vejamos uma coisa - antes de tudo aproveito para dizer que nao sou possuidor de fortuna, nem grande nem pequena - se o empresário em questão tiver cumprido com todos os requisitos, ou seja, leis, se tiver sempre pago os impostos a que o seu ramo esta sujeito, sinceramente nao percebo porquê é que terá que pagar mais um sobre o seu produto do seu trabalho.
Afinal de contas se o tal empresário tem rios de dinheiro, tal será porque soube investir, tem cabeça para o negócio, soube gerir o seu dinheiro, e, no fim, gerou fortuna.
Acho injusto que uma pessoa tenha que pagar mais um imposto por ter tido a inteligencia necessária à geração de fortuna. Seria o mesmo como ter um imposto sobre a inteligencia ncessária para tal.
Ao contrário, e porque a estupidez é o extremo oposto da inteligencia, e como tal, muito pouca ou nenhuma coisa de bom poderá sair de uma cabeça estupida, porque nao criar um imposto para quem se endivida sem ter dinheiro para pagar? ou para quem tem mais do que um cartão de credito. Sou totalmente a favor disto.

Mas quero voltar ao que me parece ser o fundamental (pacheco pereira ve se aprendes como, de facto, ir ao fundamental das questões).
O Nuno Melo esta de parabens ao ter coisificado um dos problemas das pessoas. Ele realmente apenas se saiu com aquela pergunta, que pretendia ela propria ser um qualquer tipo de contra-argumentação, mas totalmente errada a meu ver, porque nao quis assumir o que pensava.

Não está mal, nem é de todo incorrecto dizer o que se pensa sobes este ou aquele assunto. A política - que mais nao é do que uma parcela desse todo que chama vida, interagir, ser esse animal social de que Aristóteles falava, havendo até quem diga que tudo é politica - é isso mesmo. É assumir, é ser, é estar, é estar convicto (mas nao confinado) do que ou ao que se acredita.
Errado esta em querer não assumir para nao perder. Estamos a falar de um pais inteiro, do futuro de gerações.
O problema da politica/pessoas esta mesmo neste ponto. O dizer toda a verdade, e todos sabemos, ou deviamos saber, que muitas vezes a verdade nao é aprazivel ao nossos ouvidos, mas é a verdade.

É devido a estas questoes, a esta falta de saber estar no mundo/com as pessoas/com os assuntos, que o estado, isto é, nós todos, nao gostamos de politicos.
Pessoalmente sao atitudes deste tipo que confirmam a validade da minha postura em nunca ter ido votar.

Em suma: devido á fraca qualidade do nossos politicos, que se correlaciona por sua vez com falhas de carácter, de educação , e, sobretudo, de experiencia de vida, que Portugal é um estado sem estado, é um estado que nao gosta de politica, e um país onde os nossos politicos - que nunca estudaram para tal....e esta é outra excelente questao que desenvolverei mais tarde - se submetem a uma logica que apenas almeja o estar num certo sitio/posição.

São pessoas que nao são verdadeiras com elas próprias, como esperar entao que sejam verdadeiras para com o resto?
Tenho para mim que pior que mentir a terceiros é mentirmos a nós proprios.

Fico cada vez mais farto de viver num pais que nao assume aquilo que pensa, que tem medo da sua historia, que nao a apreende (o que é diferente de a aprender, já que datas toda a gente consegue decorar), que nao se conhece como povo, que nao tem orgulho e nao retira lições de já nos tempos dos romanos termos sido classificados como ingovernáveis, um pais em que os filhos não "batem" nos pais, em que os pais se ausentam dos filhos (talvez porque depois nao queiram levar com eles em cima....).

Temos um país ausente de si mesmo.

1 comentário:

  1. Fico triste quando penso que os politicos espelham os cidadaos. Pais de labregos = classe politica de labregos. Veja-se o "chico-espertismo" do portugues (usando a expressao de alguem), cujas vistas curtas o impedem de perceber que um beneficio a curto-prazo podera ser a sua ruina (e de um pais) a medio prazo.

    Parabens pelo blog! E' bom ver que ainda ha cabecas pensantes. :-)

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